Quando a gente coloca uma palavra ou frase de forma consciente, aquelas coisas que a gente fala com conhecimento, pensando naquilo dentro de um determinado contexto e tudo mais, essa frase, essas palavras tem encadeamentos próprios, tem conectivos internos próprios do indivíduo. Se eu falo assim para você: a brisa, a brisa macia, a brisa morna no verão. Imediatamente isso tem dezenas de ligações diretas com outros elementos diversos. Eu provavelmente lembro do vento subindo os rochedos do Morro dos Conventos, lembro o vento macio da tarde soprando pelo rio Araranguá em direção ao mar. Isso também me dá acesso à centenas de coisas periféricas e indiretamente ligadas à isso. Então surge o desejo de ir à praia, de descansar uns dias, de colocar os pés no rio, essas coisas.
Essa frase, essas palavras também excluem dezenas, centenas de outras manifestações indiretas que nada tem a ver com ela. Muitos não se dão conta destes aspectos de uma arquitetura interna das frases e dos pensamentos durante as conversas.
Existe essa arquitetura de conceitos de palavras dentro de cada um de nós. Usando aqui de analogia: assim como temos na garagem o carro da gente, as ferramentas de jardim, ferramentas de conserto, isso está infinitamente distante da nossa biblioteca e a dificilmente ligamos ou relacionamos uma coisa à outra. Muitos conceitos, muitos termos dentro de nós também passam por esse tipo de arquitetura. É uma arquitetura que pressupõe tendências, contradições, continuações, afinidades. Um exemplo bem concreto seria você conversar com uma pessoa sobre paz, sobre serenidade, sobre amor, e essa pessoa está tumultuada, cheia de ódio, cheia de mágoa. Para essa pessoa a conversa pode ser tão grotesca quanto se no meio de uma valsa suave fossem colocados sons de explosões de rochas e de pedras caindo. A pessoa diz: nossa, mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Não tem nada a ver!
Vamos à um exemplo ainda mais próximo do cotidiano dos tempos em que estamos vivendo. Uma pessoa que diga algo como “não dá mais, preciso sair dessa, preciso mudar de vida, preciso modificar as coisas”. Quando uma pessoa faz uma frase dessas e a formula, o que acontece dentro dessa pessoa? Qual é a arquitetura que envolve essa construção de frase? Pela maneira como essa frase está colocada dentro da pessoa, o lugar que ocupa, pelas ligações diretas e indiretas como acabamos de ver que ela encera, essa pessoa, por exemplo, às vezes não tem nada associado à isso, ela não tem nenhuma vivência relacionada à isso, então o pensamento se torna errático, ele fica caótico, fica desordenado e vaga pelo mundo e acaba encontrando alguma coisa que sugira uma resposta, ou acaba encontrando o nada, que as vezes também é a resposta da pessoa.
Outras vezes, com a arquitetura já pronta, a pessoa percorre caminhos até previsíveis, assim como o corredor da nossa casa leva aos toaletes, leva aos quartos, leva ao jardim, à sala, também determinados pensamentos se tornam óbvios pelos caminhos que eles encerram dentro deles, e pela continuação que eles desenvolvem como encaminhamento.
Olha, a importância disso é muito grande. Conhecendo a historicidade da pessoa, conhecendo a Estrutura de Pensamento dessa pessoa, quando ela diz para a gente algo do gênero “olha não dá mais, eu preciso mudar de vida, não sei o que fazer”, nós, através da estruturação dessas palavras, dos caminhos aos quais elas levam, dos encadeamentos diretos e indiretos e da arquitetura de pensamento que envolveu essa construção de frase, poderemos abrir janelas nessa arquitetura. Podemos construir jardins, enseadas. Podemos trazer o sol e a chuva, podemos fazer parar o sol e a chuva, e outras coisas mais. Às vezes é possível fazermos isso e até mais do que isso.
Nesse mesmo caso, por exemplo, conhecendo a pessoa, podemos agendar nela algo direto, do tipo “Olha, faça isso, faça o seu curso de administração, é esse o caminho”. E é claro que eu não direi isso por que eu acho, eu vou dizer isso por que conhecendo a Estrutura de Pensamento dessa pessoa, eu saberei que esse é um dos caminhos que se anunciam e o melhor a ser tomado. Ou ainda eu posso interrogar a pessoa “o que você acha que eu posso fazer? O que quê você acha que é o caminho? Por quê que tem que ser assim e tudo mais?”. E mais uma vez é claro que eu só o farei se isso tiver a ver com a pessoa, se for da natureza da sua Estrutura de Pensamento que questionamentos lhe mostrem o caminho.
Ou podemos utilizar proibições do tipo “não faça isso, evite isso e tudo mais”. É evidente que tudo isso só faz sentido a partir do modo de ser da pessoa no mundo, senão nós caímos no chute, na experimentação fortuita e isso é perigoso.
Transcrição do programa de rádio do Profº Lúcio Packter
por Gilberto Sendtko
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