sábado, 12 de maio de 2012

O MOMENTO DAS COISAS



Ouve uma época na qual se sabia o momento de fazer cada coisa na vida. Não que se soubesse de fato, mas o tempo já estava organizado, a vida tinha tal formatação que automaticamente chegava a hora de casar, a hora de ter o primeiro filho, e até mesmo a hora de morrer.


As pessoas nem precisavam pensar sobre o momento de cada coisa, estava tudo pronto, tudo certinho, tanto que havia a expressão: para cada coisa o seu devido tempo!


Você sempre era novo ou velho de mais para fugir do padrão. Imaginem na década de 70 uma senhora de 40 anos casar-se com um jovem de 20, isso seria considerado até uma “heresia”.


E ainda existem os fatores concomitantes, pois antigamente se estudava, noivava, casava, tinha-se filhos, uma coisa para cada época, hoje todas essas coisas são feitas ao mesmo tempo.


O problema é: como se pautar e se organizar na vida se o momento das coisas já não pode mais ser mensurado e medido como antigamente? A resposta está em você e na sua história de vida. Algumas perguntas podem lhe ajudar a entender isso:


Pergunta 1: olhando para a sua historia de vida, como você poderia saber qual era o momento certo ou errado de se afastar de certa coisa ou pessoa?


Pergunta 2: considerando sua história, saber disso seria algo útil? Coerente?


Pergunta 3: para você, a vida não perderia o sentido ou a graça caso você soubesse o momento em que cada coisa deve realmente começar e terminar?


Se você olhar para trás e não conseguir responder essas perguntas, não se preocupe! O fato é que muitos não devem saber. O problema nestes casos é que muitas vezes, por exemplo, a pessoa está com 40 anos, morando na casa dos pais, e eles podem estar aguardando à hora de você sair para sua própria casa, momento esse que talvez nunca chegue.


É importante saber que muitas coisas não têm nada haver com o seu momento particular de fazer as coisas. Existem elementos cujo tempo são definidos por uma época, uma sociedade, uma cultura, por fatores na vida das pessoas que te rodeiam, e não vão lhe obedecer ou considerar tuas circunstâncias.


Para aqueles cujo tempo das coisas na vida tem peso, tem importância, é determinante para sua jornada existencial, para esses eu recomendo prudência e análise da sua própria história de vida.


Inspirado na palestra do Profº Lúcio Packter, intitulada “O Momento das Coisas”


por Gilberto Sendtko

Analítica de linguagem



Quando a gente coloca uma palavra ou frase de forma consciente, aquelas coisas que a gente fala com conhecimento, pensando naquilo dentro de um determinado contexto e tudo mais, essa frase, essas palavras tem encadeamentos próprios, tem conectivos internos próprios do indivíduo. Se eu falo assim para você: a brisa, a brisa macia, a brisa morna no verão. Imediatamente isso tem dezenas de ligações diretas com outros elementos diversos. Eu provavelmente lembro do vento subindo os rochedos do Morro dos Conventos, lembro o vento macio da tarde soprando pelo rio Araranguá em direção ao mar. Isso também me dá acesso à centenas de coisas periféricas e indiretamente ligadas à isso. Então surge o desejo de ir à praia, de descansar uns dias, de colocar os pés no rio, essas coisas.


Essa frase, essas palavras também excluem dezenas, centenas de outras manifestações indiretas que nada tem a ver com ela. Muitos não se dão conta destes aspectos de uma arquitetura interna das frases e dos pensamentos durante as conversas.


Existe essa arquitetura de conceitos de palavras dentro de cada um de nós. Usando aqui de analogia: assim como temos na garagem o carro da gente, as ferramentas de jardim, ferramentas de conserto, isso está infinitamente distante da nossa biblioteca e a dificilmente ligamos ou relacionamos uma coisa à outra. Muitos conceitos, muitos termos dentro de nós também passam por esse tipo de arquitetura. É uma arquitetura que pressupõe tendências, contradições, continuações, afinidades. Um exemplo bem concreto seria você conversar com uma pessoa sobre paz, sobre serenidade, sobre amor, e essa pessoa está tumultuada, cheia de ódio, cheia de mágoa. Para essa pessoa a conversa pode ser tão grotesca quanto se no meio de uma valsa suave fossem colocados sons de explosões de rochas e de pedras caindo. A pessoa diz: nossa, mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Não tem nada a ver!


Vamos à um exemplo ainda mais próximo do cotidiano dos tempos em que estamos vivendo. Uma pessoa que diga algo como “não dá mais, preciso sair dessa, preciso mudar de vida, preciso modificar as coisas”. Quando uma pessoa faz uma frase dessas e a formula, o que acontece dentro dessa pessoa? Qual é a arquitetura que envolve essa construção de frase? Pela maneira como essa frase está colocada dentro da pessoa, o lugar que ocupa, pelas ligações diretas e indiretas como acabamos de ver que ela encera, essa pessoa, por exemplo, às vezes não tem nada associado à isso, ela não tem nenhuma vivência relacionada à isso, então o pensamento se torna errático, ele fica caótico, fica desordenado e vaga pelo mundo e acaba encontrando alguma coisa que sugira uma resposta, ou acaba encontrando o nada, que as vezes também é a resposta da pessoa.


Outras vezes, com a arquitetura já pronta, a pessoa percorre caminhos até previsíveis, assim como o corredor da nossa casa leva aos toaletes, leva aos quartos, leva ao jardim, à sala, também determinados pensamentos se tornam óbvios pelos caminhos que eles encerram dentro deles, e pela continuação que eles desenvolvem como encaminhamento.


Olha, a importância disso é muito grande. Conhecendo a historicidade da pessoa, conhecendo a Estrutura de Pensamento dessa pessoa, quando ela diz para a gente algo do gênero “olha não dá mais, eu preciso mudar de vida, não sei o que fazer”, nós, através da estruturação dessas palavras, dos caminhos aos quais elas levam, dos encadeamentos diretos e indiretos e da arquitetura de pensamento que envolveu essa construção de frase, poderemos abrir janelas nessa arquitetura. Podemos construir jardins, enseadas. Podemos trazer o sol e a chuva, podemos fazer parar o sol e a chuva, e outras coisas mais. Às vezes é possível fazermos isso e até mais do que isso.


Nesse mesmo caso, por exemplo, conhecendo a pessoa, podemos agendar nela algo direto, do tipo “Olha, faça isso, faça o seu curso de administração, é esse o caminho”. E é claro que eu não direi isso por que eu acho, eu vou dizer isso por que conhecendo a Estrutura de Pensamento dessa pessoa, eu saberei que esse é um dos caminhos que se anunciam e o melhor a ser tomado. Ou ainda eu posso interrogar a pessoa “o que você acha que eu posso fazer? O que quê você acha que é o caminho? Por quê que tem que ser assim e tudo mais?”. E mais uma vez é claro que eu só o farei se isso tiver a ver com a pessoa, se for da natureza da sua Estrutura de Pensamento que questionamentos lhe mostrem o caminho.

Ou podemos utilizar proibições do tipo “não faça isso, evite isso e tudo mais”. É evidente que tudo isso só faz sentido a partir do modo de ser da pessoa no mundo, senão nós caímos no chute, na experimentação fortuita e isso é perigoso.


Transcrição do programa de rádio do Profº Lúcio Packter


por Gilberto Sendtko

Axiologia – Os nossos Valores



Oque é realmente importante na vida? Eis uma questão que quase todos já fizeram em algum momento de sua jornada.


Em Filosofia Clínicatratamos deste assunto no Tópico 18 – Axiologia, o qual diz respeito aos elementos de valoração. Em outras palavras, se ocupada daquilo que valoramos, como valoramos, por que valoramos, como deixamos de dar valor e como se caracterizam e estruturam esses valores dentro de nós. Em outras palavras, trabalha com a “importância” das coisas.


O fato é que muitos não se dão conta que boa parte das vezes o que é valorado na verdade só o é dada a forma que valoramos as coisas, e isso se dá das mais diversas maneiras e formas.


Algumas pessoas valoram pela proximidade, ou seja, elas dão importância para aquilo que lhes é próximo, que está ao seu redor. Em outras palavras, são pessoas cujos valores são proporcionais ao Tópico 3 da Estrutura de Pensamento (sensorial), então quanto mais essa pessoa puder tocar, puder ver, puder cheirar, sentir, mais isso terá valor para ela.


Outros, no entanto, possuem valores inversamente proporcionais a essa proximidade. Eles valoram coisas que estão distantes. São pessoas cujas coisas e seres que estão próximos normalmente não são considerados importantes. Pessoas essas que normalmente não sabem lidar bem com a proximidade. Lembramos que em Filosofia Clínica não existe um certo ou um errado, um bom ou um mau, essas são apenas as formas como o indivíduo se estruturou ao longo de sua vida.


Outras pessoas valoram por afetividade. Então quando algo tiver um valor sentimental isso lhes será importante. Às vezes um presente dado por um ente querido e que já se foi, às vezes um amor, coisas que lhe tocam emotivamente.


Já algumas pessoas atribuem valor ao trabalho que tiveram para conquistar algo. São pessoas que costumam dizer: eu trabalhei muito para adquirir isso! Eu sofri muito na vida para ter isso e aquilo!


Alguns fazem conectivos, então eles valoram o filho por ele seguir a empresa da família, e este por sua vez têm mais importância do que teria sozinho. Pessoas assim costumam apresentar no discurso fortes vínculos que nomeiam os seus valores, tais como: meu filho é importante porque além de ser meu filho ele também trabalha comigo.


E claro existem aqueles que valoram por freqüência (T12 – Paixões dominantes). Para pessoas assim quanto mais algo se repetir na vida, quanto mais freqüente tiver uma coisa, mais importante isso será. Para pessoas assim é difícil largar uma carreira, uma profissão, e até mesmo uma empresa, uma casa, uma família.


Algumas pessoas valoram por empiria, ou seja, elas nos colocam que algo lhes tem valor através das vivências que elas tiveram ao longo da sua jornada.


Claro, existem aquelas pessoas que introjetam valores para as coisas, ou seja, elas dão valor às coisas simplesmente por dar, não existe um motivo ou uma forma aparente. E existem aqueles para os quais os valores não significam nada, eles querem mais é viver a vida, definem as coisas por outros parâmetros e questões; costumamos dizer nestes casos que a axiologia (os valores) não possuem peso subjetivo para a pessoa, ou seja, não possuem poder de determinancia sobre as coisas.


Não é difícil encontramos exemplos de falas como: quando eu consegui algo que para mim era muito importante eu comecei a sentir um vazio. Isso se dá, pois algumas pessoas compram valores através de pré-juízos (Tópico 5 da EP), então pela família acreditar que aquilo era importante a pessoa o considera importante.


Muitos somente consideram algo importante através das suas abstrações, pela forma como imaginavam algo, pelas vivencias abstratas que possuíam. É assim que muitas coisas que nos sonhos são lindas acabam se mostram sem cor e importância quando acontecem ou existem realmente.


Algo interessante também de se saber é que muitas pessoas, por terem uma axiologia baseada em valores hierárquicos, ou seja, de graus de importância, acabam caindo em vários problemas. Usos de drogas ocasionadas pelo grande valor que lhe são dadas, por exemplo. Ou os casos nos quais a família é menos importante que o emprego, e etc.


Aqui nós vimos os conceitos e idéias básicas em torno dos valores. Podemos perceber que muitos valores são construídos ao longo da vida de diferentes formas, por diferentes mecanismos. Em breve aprenderemos a utilizar melhor cada um destes conhecimentos aqui demonstrados.


por Gilberto Sendtko