Na última
coluna vimos que algumas pessoas encontram-se caminhando por lindos lugares da
nossa cidade, tais como o Ecoparque, mas que não estão lá de fato, pelo menos
não do ponto de vista do seu pensamento, das suas emoções, das suas ideias. Vimos
que uma das consequências de ter isto como um padrão é a dissociação entre
corpo e mente, entre o ambiente em que estamos e o que se passa dentro de nós.
A pessoa fica com o seu pensamento pulando de quadro em quadro, de ideia em
ideia, de coisas boas do nada para coisas horríveis.
Entre as consequências usuais destes
padrões de espacialidade encontram-se queixas como o fato de a pessoa não ver
mais graça de estar em lugar algum, não importa o quanto belo ele seja, e assim
acaba se fechando em casa, em uma sala muitas vezes escura, de janelas
fechadas, como se o mundo lhe fizesse mal. Outras vezes a pessoa reclama que
nada mais lhe agrada, que não consegue saborear uma boa comida, que não
consegue sentir atrações físicas pela esposa ou marido, que são pobres de um
ponto de vista sensorial. Sente-se como se seu corpo tivesse se tornado apenas
um veículo de carga, levando ela de um lado para o outro, quase como uma
máquina, insensível, morta.
Também
não é incomum que pessoas assim caminhem para coisas grotescas, extravagantes,
como se estando anestesiadas para a vida precisassem de coisas cada vez
maiores, caminhando rumo a atitudes primeiramente radicais, depois perigosas,
depois proibidas, algumas acabam até precisando do uso de drogas para
conseguirem “sentir algo”, ou, como elas mesmas dizem, “se sentirem vivas”.
Quando escutam uma música suave, por exemplo, isso lhes incomoda, pois seus
corpos só funcionam a base de “fortes batidas”, tendo perdido a sensibilidade,
a delicadeza, a capacidade de viverem coisas brandas e consequentemente coisas
como paz, serenidade e quietude. Filosoficamente falando, não há nada de errado
ou feio em habitar em mundos como estes, porém eu duvido que a maioria das
pessoas goste de assim estar.
Estes efeitos tendem a se
potencializar quando na Estrutura de Pensamento do sujeito a corporeidade tiver
desempenhado um papel significativo na sua construção histórica. Querido
leitor, pare e reflita um pouco. Quando você era criança, jovem, adolescente,
as vivências corporais constituíam uma parte importante de você? Coisas como
andar de bicicleta, sentir a água de um rio, o gosto de um sorvete, o toque com
a pele de outrem eram importantes? Hoje você se encontra afastado disso tudo?
Encontra-se padecendo em mundos mentais dolorosos, problemáticos e sem gosto? É
curioso como alguns estão tão dissociados da sua identidade corpórea que não
conseguem, por exemplo, entender quando os seus filhos ou netos precisam se
exercitar, brincar, correr, se sujar, dando a impressão de que eles nunca
fizeram isso nessa idade.
Se
você se identificou com o tema deste mês ou acha que alguém próximo padece
destes estados existenciais, acompanhe a coluna da próxima semana.
Coluna Semanal no Jornal Voz do Oeste
Gilberto Sendtko - Colunista
Terapeuta e Prof. Pós-graduação
Especialista em Filosofia Clínica
www.facebook.com/terapiachapeco
www.filosofiaclinicachapeco.com.br
sendtko@gmail.com
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